Após um ano em que as cotações das commodities agrícolas viraram de tendência e recuaram, fatores de produção e de política monetária internacional devem manter a tendência geral de queda no próximo ano, com poucas exceções, segundo analistas consultados pelo DCI.
A elevação dos preços observada há dois anos incentivou o agronegócio a aumentar a produção, pressionando os preços para baixo neste ano. Com a nova política do Federal Reserve (Fed) de redução dos estímulos monetários e consequente elevação dos juros, o mercado de títulos norte-americanos deve se tornar mais atrativo para o capital especulativo que o de commodities agrícolas, o que pode acentuar o viés de baixa no setor.
O milho foi a commodity que mais sentiu o impacto do aumento de produção global em 2013. De janeiro a novembro, a queda das cotações na Bolsa de Chicago chegou a 40,8%, de US$ 715 o bushel para US$ 423. Em 2012, o cereal havia alcançado máximas históricas com a quebra de safra nos Estados Unidos, mas a retomada da produção norte-americana e o recorde de safra no Brasil inundaram o mercado do grão.
A diferença para 2014 é nova demanda da China, que assinalou no final deste ano que deve começar a comprar milho no mercado internacional. Outra demanda que pode evitar uma nova queda de 40% é por parte da indústria de etanol. Ainda assim, a promessa de nova supersafra e estoques altos devem manter a tendência de queda. “O milho pode cair mais, mas deve chegar a patamar que, se cair muito, desestimula o produtor norte-americano a plantar”, observa Steve Cacchia, analista da Cerealpar.
Para a soja, o cenário é mais incerto. Apesar da supersafra que a América do Sul promete tirar do campo no primeiro semestre, os estoques mundiais continuam baixos e os compradores podem querer adiantar as compras diante da incerteza da safra norte-americana. “Principalmente para o segundo semestre, a expectativa é que mercado vai ficar bem pressionado. Mas no primeiro semestre isso ainda não é confirmado”, afirmou Cacchia.
Os preços do trigo caíram 15,5% no mercado internacional, mas no mercado interno a valorização chegou a 34% em setembro desde o início do ano. “Foi ano de bom preço para o trigo, mas não podemos imaginar que vai ser assim ano que vem”, disse o analista. Os trituradores podem substituir o trigo pelo milho, já que este grão está mais barato e mais abundante no mercado, afirma. A redução da demanda deve se combinar com a recuperação da produção do cereal no Brasil, que sofreu neste ano com o frio.
O movimento de queda deve ocorrer também no mercado do café, que neste ano se desvalorizou 29,5% na Bolsa de Nova York, em decorrência da alta produção brasileira do grão. “A demanda sobe, mas os estoques ainda são muito altos”, explicou Fabio Silveira, da GO Associados. Em 2013, os estoques médios corresponderam a 92 dias de consumo, e a perspectiva da consultoria é de que no próximo ano os estoques subam para o equivalente a 95 dias de consumo. O reflexo deve ser uma redução de 5% a 10% no preço internacional, passando para US$ 1,20 por libra-peso, calcula a consultoria.
Já o cenário do mercado de algodão é mais favorável. Apesar da concorrência com as fibras sintéticas, os altos estoques do ano passado vêm reduzindo. Neste ano, devem fechar em volume equivalente a 312 dias de consumo, e no próximo ano, a 300 dias de consumo, segundo a GO Associados. Esse patamar só deve ficar menor em 2015, quando os preços terão espaço para subir. Neste ano, afirma Silveira, a tendência é de estabilidade.
Açúcar na contramão
Se a tendência geral das commodities é de ligeira baixa, o preço do açúcar e do etanol pode subir diante de um cenário de aumento da demanda, enxugando os altos estoques acumulados desde 2011. “Os preços do açúcar devem começar a melhorar a partir de maio e junho de 2014, e os preços do álcool já estão melhorando” por causa do reajuste do preço da gasolina, explicou Plínio Nastari, da Datagro.
A GO Associados calcula que o preço médio do açúcar no próximo ano suba 2% para US$ 17,90 a libra-peso, com recuo do estoque mundial de 94 para 90 dias de consumo.